terça-feira, 12 de agosto de 2014

Receita para fazer uma "psicografia"


Inspirado nos trabalhos realizados pelo "espiritismo" brasileiro, em que as mensagens tidas como espirituais pouco condizem quanto à personalidade de seu autor, importando muito mais as mensagens "amorosas" e "fraternais" nelas contidas, resolvemos ensinar um modelo de "psicografia" para qualquer um se dar bem em qualquer "centro espírita".

É só carregar nas palavras de amor, de caridade, luz e fraternidade. Deve-se também criar um draminha, dizendo que o tal falecido sofreu e que depois que recebeu o socorro espiritual e as orações dos entes que ele deixou, ele agora conheceu a luz e tornou-se uma pessoa melhor.

Para evitar muito sacrifício, levando em conta que muitos supostos médiuns não têm a habilidade criadora de dramaturgos contemporâneos como Sílvio de Abreu e Gilberto Braga, criamos um modelo de "mensagem espiritual" que pode ser copiado, usando as devidas variações.

Assim, o dito "médium espírita" pode poupar esforços e lançar uma mesma mensagem de amor, pouco importando se trata de um Chorão, Mané Garrincha, Juscelino Kubitschek ou mesmo PC Farias. Basta seguir alguns procedimentos através do modelo abaixo:

Meus irmãos. Quanta felicidade sinto no coração ao compartilhar convosco esse ambiente de amor e luz. Eu, tomado de excessos na vida, vivi (1) e sofri profundamente depois do desenlace físico. Enviado para as zonas trevosas, cercado de espíritos obsessores, fui socorrido por (2) e levado para a colônia espiritual (3).

Almas bondosas resolveram então me amparar e uma nova luz se irradiou sobre meu ser, uma sensação de paz tomou toda minha alma. Então pude rever no mundo espiritual entes que se foram, reunidos em (4). Quantos momentos de alegria e fraternidade. Quantas bênçãos, quanta luz!! Graças às orações que recebi de todos vocês, virei uma pessoa melhor e iluminada. Deus os proteja, irmãos!!

(1) Adote uma metáfora relacionada à vida do falecido. Às vezes títulos de músicas ajudam, como "Exagerado", no caso de Cazuza, "Tempo Perdido", da Legião Urbana (banda de Renato Russo) e "Sociedade Alternativa", de Raul Seixas. Ou então "Bye Bye Brasil", em relação a José Wilker, e "Terra em Transe", em relação a Glauber Rocha.

(2) Use algum nome de origem latina ou árabe, ou, se caso não conseguir, faça pretensos helenismos e pretensos latinismos, como "Efrias", "Misóquias", "Elesbíades", "Geremião" ou coisa parecida. Se for mulher, usar "Marta" ou "Maria" seria lugar comum, devendo ser acrescido de alguma localidade árabe ou romana de sua preferência.

(3) É opcional a denominação da tal colônia espiritual, mas uma vez feita, garante o "diferencial". A FEB já veio com Nosso Lar, o que indica que se deverá escolher outro nome. Possíveis sugestões: Nova Luz, Viajores da Paz, Caminheiros do Amanhã, Cristo e Luz, Fraternidade Cristã, e por aí vai.

(4) Junte gente relacionada à vida do falecido e que morreram antes dele. No caso do Cazuza, chegou-se a inventar um "Cassino do Chacrinha do além", com o próprio Abelardo Barbosa, o Chacrinha, mais cantores como Clara Nunes. No caso de um Tom Jobim, por exemplo, pode-se forjar um botequim do além, com Vinícius de Moraes, Nelson Rodrigues, Ronaldo Bôscoli, Maysa etc.

Só precisa ver se não há algum processo judicial dos herdeiros deles a caminho. Se não houver, basta só fazer os ajustes e lançar a mensagem espiritual em questão.

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