domingo, 20 de setembro de 2015

Adam Lambert não conseguiu "incorporar" Freddie Mercury


Adam Lambert, cantor de pop convencional que, em sua carreira-solo, tem como um de seus sucessos uma música intitulada "Ghost Town", não conseguiu "incorporar" Freddie Mercury na apresentação com dois dos remanescentes do Queen (o baixista John Deacon decidiu definitivamente ficar de fora e foi substituído por um músico de apoio) na última sexta-feira, no Rock In Rio 2015.


Ele até se esforçou para ser o mais carismático possível, e podemos admitir que ele foi simpático com a plateia, procurou interagir e coisa e tal. Só que nós sabemos que o Queen perdeu a majestade há quase 25 anos, já que Freddie Mercury faleceu vítima da AIDS em novembro ee 1991.

O problema é que Adam Lambert é cria do American Idol, que, como todo reality show musical, é uma fábrica de cantores amestrados. Lá tudo é calculado, como os gestos que se faz quando canta um refrão, a forma de colocar a mão no peito, como virar o rosto durante uma introdução instrumental, como correr de um lado para outro no palco. Tudo é calculado, nada é espontâneo.

Daí que vemos o resultado. Adam Lambert exagera nos gestos, nas caras e bocas, na ginástica corporal e tudo. Corre para lá e para cá no palco, deita de forma sexy na poltrona, abre as pernas e faz beicinho.

O BEICINHO SE COMPARA COM UM SUPOSTO MÉDIUM DO LAR FREI LUIZ (EM FOTO DE 1969), LOCALIZADO NA TAQUARA, BEM PRÓXIMA DA CIDADE DO ROCK.

E aí nos lembramos do beicinho que um suposto médium do Lar Frei Luiz havia feito para sessões em 1969. Detalhe: o "centro espírita", que recebeu uma suposta mensagem de Cássia Eller tempos atrás - menos "autêntica" que a cover da saudosa cantora - fica bem próxima à Cidade do Rock, em Taquara, na mesma região de Jacarepaguá.

E sabemos que os médiuns não conseguem incorporar os falecidos que dizem incorporar. Mas têm que fazer jogo de cena e até Divaldo Franco tenta imitar o que ele imagina ter sido a voz de Adolfo Bezerra de Menezes, algo como Zé Colmeia gripado. Algo como Adam Lambert tentando soar parecido com Freddie Mercury.

Apesar de todo esse jogo de cena, Adam Lambert empolgou o público do Rock In Rio 2015. Só que, como a História se repete como farsa, o que parecia uma espontaneidade explosiva de parte de Freddie Mercury, soa extremamente técnico e calculado de parte de Adam. E não é o sucesso de público que fará necessariamente de Adam um excelente artista de rock. Ele está longe disso.

FÃ DO QUEEN FAZ POSE USANDO BIGODE POSTIÇO. MAS NEM SEMPRE FREDDIE MERCURY ERA BIGODUDO, COMO NESTA FOTO DE 1975, ÉPOCA DE "BOHEMIAN RAPSHODY".

O público que aplaudiu Adam Lambert é o mesmo que tirou sarro com o bigode do Freddie Mercury, usando um bigode postiço, como se o saudoso cantor do Queen tivesse sido um palhaço. Um público preocupado mais em fazer gesto do capeta com as mãos, botar língua pra fora, pular, fazer air guitar para dar a impressão de que é "roqueiro de carteirinha".

Mas nem sempre Freddie Mercury foi bigodudo. Na verdade, ele só foi bigodudo entre 1981 e 1988, muito pouco tempo para cerca de duas décadas de carreira (cerca de um terço). A maior parte do tempo Freddie estava com a cara limpa ou com barba por fazer.

O Rock In Rio 2015 mostra o quanto a cultura rock, no Rio de Janeiro, não é um estado de espírito, mas um modismo de consumo voraz. Também, a "cultura" é orientada por uma rádio pop que "só toca rock", a Rádio Cidade, e por um mercado corporativista que só serve para arrancar dinheiro dos fregueses, seja para vestir roupas caras, lanches horríveis, adereços supérfluos.

São pessoas empurradas até a comprar a "lama do Rock In Rio 1985", tirada de algum canteiro de obras do projeto Rio Cidade Olímpica durante os dias de chuva e vendido como se fosse a lama original dos dias chuvoso do primeiro Rock In Rio, em janeiro de trinta anos atrás.

Parece mais um carnaval. Depois do Rock In Rio, as pessoas deixarão o rock de lado, o Multishow (que cobre o festival) voltará para suas comédias popularescas, a Rádio Cidade continuará forçando a barra como FM pseudo-roqueira e o máximo de "sonzeira" que terá são as britadeiras e furadeiras das obras da Cidade Olímpica. Passada a folia roqueira, é hora de tirar a fantasia.

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