quinta-feira, 23 de outubro de 2014

José Wilker ficou "indigesto" para "médiuns" brasileiros


A lista de personalidades mortas marcadas para a usurpação de pretensos médiuns já começa a se ampliar, O humorista Fausto Fanti, do grupo Hermes & Renato e o ex-governador de Pernambuco, Eduardo Campos (que chegou a ser candidato à Presidência da República), são os mais visados.

Eles poderão "reaparecer" em mensagens supostamente mediúnicas, atribuídas a seus nomes, fazendo o mesmo proselitismo religioso e a mesma ladainha de dizer que "fulano sofreu, foi socorrido e mandado para colônias espirituais e depois reencontrou a luz, blá blá blá, blá blá blá".

Mas essa "mediunidade" é seletiva, porque não está imune a mal-entendidos diante de "psicografias" malfeitas, em que a personalidade do "médium" se sobressai a do coitado do falecido que não pode se expressar e tem seu nome usado em mensagem redigida ou falada por outrem, ou por alguma produção artística alheia.

No Rock Brasil, por exemplo, há vários casos constrangedores, envolvendo de Raul Seixas a Chorão, passando por Cazuza e Renato Russo, todos patéticos. Na prática, seus nomes são usados apenas como propaganda para atrair o público jovem para esse "espiritismo" tosco e igrejista que é feito no Brasil, um sub-catolicismo cafajeste e de ranço ainda medieval.

Daí as "psicografias" mostrando um Raul Seixas debiloide e apegado a misticismos que o roqueiro baiano havia deixado para trás no fim da vida, e um Chorão, skatista e rebelde em vida, com suas gírias e seu jeito de falar, "mandando" mensagens como se fosse um vigário de uma igreja do interior, com palavras solenes demais para sua personalidade.

Mas, fora da música, nota-se que até pessoas diferentes parecem dizer a mesma coisa, como a atriz Leila Lopez e o músico iniciante Rafael Mascarenhas, filho do ex-casal Cissa Guimarães e Raul Mascarenhas. Leila parecia uma noviça católica e Rafael um coroinha de igreja, chamando a mãe pelo vocativo de "senhora", algo que não condiz com rapazes do seu tipo que chamam pais e mães pelo vocativo de "você".

E como ficará o caso de José Wilker? Ele "reaparecerá" falando que nem sacerdote de catedral, dizendo que "sofreu, foi socorrido em colônias espirituais" e terminará a mensagem "chamando a todos a unirem-se em torno do amor e da caridade"? Seria demais para o espírito dele, que certamente cairá em risadas diante de tamanha atribuição.

Mas pior não é José Wilker, lá no além, achar ridículo ter que associar seu nome a mensagens tão patéticas e superficiais, porque tais coisas até soariam cômicas para o saudoso ator, que tinha suas tiradas bastante irônicas em vida. Pior é o zelo que sua família terá diante da ameaça dos "médiuns" em transformar o ator em mais um "igrejista do além-túmulo".

Atualmente, duas ex-mulheres de Wilker, Renée de Vielmond e Mônica Torres, a ex-namorada, Cláudia Montenegro e as filhas Isabel Wilker, atriz, e Mariana Vielmond, roteirista, estão empenhadas de alguma forma em manter o legado do ator, de uma carreira bastante rica, produtiva e expressiva, e que certamente dará num livro biográfico em breve.

Curiosamente, José Wilker interpretou Juscelino Kubitschek numa minissérie comemorativa dos 50 anos de posse do antigo presidente, morto num acidente de carro bastante suspeito em 1976. O próprio Juscelino foi vítima da esperteza de um "médium", num livro que imita direitinho o estilo de falar do ex-presidente, mas aponta falhas pessoais sutis que contestam a veracidade da autoria.

A mulherada que se dedicará a manter vivo o legado de Wilker, mantendo-o disponível para a pesquisa e a admiração de futuras gerações, não irá engolir as ações de "médiuns" que, a pretexto de apelidá-lo de "Roque Santeiro do além", venham com o mesmo papo igrejista de sempre, esse mesmo blablablá que se atribui aos coitados dos mortos que não podem falar para nós do lado de cá.

Daí que será difícil alguém usar o nome de José Wilker para escrever feito padre em sermão. Com a vigilância de suas herdeiras, José Wilker ficou "indigesto" para o oportunismo dos anti-médiuns que seguem o estrelato no "espiritismo" feito no Brasil.

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