quarta-feira, 19 de agosto de 2015

Luíz Buñuel pode estar se agitando nas cinzas


O criminoso neo-nazista Anders Behring Breivik, que em 2011 causou um atentado a bomba que matou 77 pessoas em Oslo, capital da Noruega, parece em parte viver na realidade o que um franco-atirador vivenciou no filme de Luís Buñuel, O Fantasma da Liberdade, de 1974.

Sabe-se que, no filme de Buñuel, especialista em temáticas surreais, um homem se aloja num andar alto de um prédio para, com uma espingarda, atirar contra qualquer pessoa, matando-a. Matou várias pessoas e, detido, foi condenado teoricamente à morte, mas foi solto e, no final do julgamento, ainda deu autógrafo para um grupo de jovens admiradoras.

Pois esse último aspecto faz Buñuel se sacudir nas cinzas. É certo que Anders não foi condenado à morte nem foi solto, mas num meio-termo foi condenado a 21 anos de prisão em regime fechado, o que significa que, em menos de suas décadas (a sentença foi dada em 2012), ele poderá estar solto.

Mas ele recebeu cartas de admiradoras apaixonadas, que correspondem à maior parte das 800 cartas que o criminoso recebe na prisão. Uma fã de 16 anos até o pediu em casamento. A psicologia denomina esse fenômeno de "hibristofilia", a paixão por pessoas assassinas.

Como se vê, o surrealismo tenta ultrapassar os limites da ficção para se tornar realidade. Ou Luís Buñuel havia cometido uma profecia sem querer ou ele anda sendo plagiado pela realidade atual. Nas duas hipóteses, o absurdo vence a coerência e os valores morais.

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