Os críticos musicais de rock e os colunistas de rádio recorrem aos ensinamentos de Francisco Cândido Xavier para louvar a "religião do rock" da Rádio Cidade, recorrendo à resignação sem questionamentos e o deslumbramento por pouco ou quase nada.
Sabe-se que, como toda religião, a "religião do rock" da Rádio Cidade ignora todos os fundamentos originais da cultura rock, sendo na verdade uma doutrina deturpada, porque a deturpação é o combustível da fé cega e do fanatismo.
Dessa forma, a Rádio Cidade é trabalhada por gente NÃO especializada em rock, e ouvida por jovens que não têm a menor ideia do que ouvem e se o que ouvem é realmente importante ou não. Se uma bobagem como The Presidents of The USA é rock clássico, eles aceitam de mão beijada.
Claro que a Rádio Cidade não toca 99% do que acontece no rock no mundo inteiro. E sua programação diária, cheia de programas de besteirol (e até, pasmem, de futebol, como se Neymar, só por ter usado cabelo moicano, tivesse sido roqueiro um dia, coisa que nunca foi sua praia nem muito menos seu gramado) e com sucessos musicais repetindo a toda hora.
Mas os críticos musicais de rock seguem os ensinamentos de Chico Xavier para aceitar e exaltar a Rádio Cidade: sofrer em silêncio a cada barbaridade que seus locutores engraçadinhos e suas dicções tresloucadas (ou, quando muito, uma serena voz de mauricinho triste) falam na emissora e a ausência de músicas mais alternativas ou mais substanciais de rock.
Sofra em silêncio, sofra amando, ore um Pai Nosso para que o espírito de Jimi Hendrix baixe a toda hora nos 102,9 mhz da emissora carioca (embora seja impossível tocar além de "Fire" e "Purple Haze" e "All Along the Watchtower", esta cover de Bob Dylan, ainda assim, lá de madrugada) ou rezar um terço para que até O Terço seja tocado na colorida e animada emissora.
Aguente sem questionar que uma rádio - que já peca ser chamada Rádio Cidade, nome que nada tem a ver com rock - venha com locução mauriçola, programas de besteirol, vinhetas tipo Jovem Pan, linguagem animadinha.
Se você tem mais de 30 anos, aguente amando ser tratado como um moleque retardado de cinco anos de idade pela emissora e ouvir as mesmas mesmices musicais 10 vezes ao dia, de quatro em quatro meses.
Aguente tudo isso, porque daqui a um tempo terá o Rock In Rio 2015, comemorativo dos 30 anos, e você concorrerá a um ingresso de graça. E daqui a pouco tem Pearl Jam no Brasil, e você poderá ter ingresso de graça, como prêmio por aceitar a Rádio Cidade tocar uma pequena dezena de hits da banda de Eddie Vedder, isso com a banda tendo 25 anos de estrada.
Suporte em silêncio, sem queixumes, porque no ano que vem tem mais Lollapalooza, Monsters Of Rock, medalhão do rock vindo ao Brasil e você, crítico musical, sabe que a Rádio Cidade não é lá essas coisas, Rádio Cidade sendo rádio de rock soa como os Backstreet Boys fazendo heavy metal.
Aguente tudo sem queixumes e vá chorar um pouco vendo a exposição Maldita 3.0 e os tempos em que o rock era melhor tratado pela Rádio Fluminense FM e seus locutores que falavam como gente de verdade, longe dos animadores de festinhas infantis da Rádio Cidade de hoje.
Chore um pouco, mas chore em silêncio para não assustar a criançada. Chore ao saber que, antes, a Fluminense FM era capaz de fazer chacota com o marketing de guerrilha que se fazia quando a Cidade arriscava a botar na vitrola algum solo de guitarra mais barulhento, e hoje são os violentos ouvintes da Cidade que fazem bullying contra os órfãos da Fluminense.
Daí os críticos de rock parecerem terem lido O Consolador, que Emmanuel ditou para Chico Xavier, antes de escrever alguma nota sobre rádio. Eles são capazes de tolerar, sem queixumes, uma rádio pop se passar por "radicalmente roqueira". Até porque Chico Xavier fez algo parecido. Ele era católico da gema, virou "radicalmente espírita" pelo mesmo oportunismo da Cidade pelo rock.
Daí tudo ser "mó irado, mermão". E a crítica musical sofrendo com amor e orando em silêncio. Tudo em troca dos próximos Lollapalooza, Mosnters of Rock e Rock In Rio e os ingressos de graça a serem sorteados pela rádio.
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