Ah, o "bom velhinho" Chico Xavier... Só ele entende de "sabedoria", não é? O anti-médium mineiro, que queria que nós sofrêssemos e encarássemos qualquer cilada sorrindo, orando e amando, veio com uma frasezinha bonitinha, que faz seus seguidores infantilizados dormirem tranquilo.
Veja só que "pérola":
"A sabedoria superior tolera, a inferior julga; a superior perdoa, a inferior condena. Tem coisas que o coração só fala para quem sabe escutar!"
Isso para quem havia defendido a ditadura militar. Mas Chico Xavier é tão bonzinho,.. Ele acha que nós podemos sofrer o pior dos sofrimentos e acharmos que somos abençoados por isso. Pois veja o que o bondoso e amoroso Francisco Cândido Xavier comentou sobre a ditadura militar, ele, que muitos acreditam ser "o mais progressista dos progressistas":
"Temos que convir (...) que os militares, em 3l de março de 1964, só deram o golpe para tomar o Poder Federal, atendendo a um apelo veemente, dramático, das famílias católicas brasileiras, tendo à frente os cardeais e os bispos. E, na verdade, com justa razão, ou melhor, com grande dose de patriotismo, porque o governo do Presidente João Goulart, de tendência francamente esquerdista, deixou instalar-se aqui no Brasil um verdadeiro caos, não só nos campos, onde as ligas camponesas (os “Sem Terra” de hoje)), desrespeitando o direito sagrado da propriedade, invadiam e tomavam à força as fazendas do interior. Da mesma forma os “sem teto”, apoderavam-se das casas e edifícios desocupados, como, infelizmente, ainda se faz hoje em dia, e ali ficavam, por tempo indeterminado. Faziam isto dirigidos e orientados pelos comunistas, que, tomando como exemplo a União Soviética e o Regime Cubano de Fidel Castro, queriam também criar aqui em nossa pátria a República do Proletariado, formada pelos trabalhadores dos campos e das cidades".
Não, meus caros, isso não é um editorial de O Estado de São Paulo, não é um manifesto do IPES, nem muito menos algum discurso de Carlos Lacerda. Isso é Chico Xavier, o "homem-amor", o "sábio dos sábios", que todo mundo adora.
Mas aí ele diz que a sabedoria superior é condescendente, que aceita tudo de bandeja. Você vive numa cama de pregos e seu corpo dói muito? Sorria, você recebeu muitas bençãos, não se sabe como. Você tem que aguentar um "mala" que se dá melhor do que você na vida, sem mérito algum. É só rezar, amar e sorrir.
Contente-se com um raio-de-sol que iluminar seu caminho, antes que um trovão caia sobre sua cabeça. E, se você tem um grande projeto de vida e morre no começo do caminho, mesmo assim, sorria. Você terá chance de executar inteiramente o seu projeto daqui a 200 anos!
E a sabedoria superior perdoa, não é? A inferior julga e condena. Sendo assim, vamos rasgar todos os documentos de Direito, todas as teorias e princípios. Vamos eliminar as leis, vamos rasgar a Constituição, vamos manter o caos e viver da "sabedoria superior" das palavrinhas de seu Chico Xavier.
O coração é mudo. Não falemos. Não analisemos. Não pensemos. Que desgraça sermos dotados de raciocínio, porque o "sábio" Chico Xavier nos diz que só precisamos amar. Que desgraça a nossa capacidade de fala, porque o "superior" Chico Xavier nos diz que a melhor voz é a do silêncio.
Tinha que ser. Afinal, é o Chico que defendeu o golpe de 1964, e lá em 1971, na TV Tupi de São Paulo, ainda pedia para orarmos pelos generais que comandavam a tortura, mandavam matar e faziam seus subordinados jogarem os cadáveres em qualquer lugar. De que adiantava o AI-5 proibir os brasileiros de falar? Chico já pedia o mesmo, só que com palavrinhas doces.
Se, naquela época, o condenado levava choque elétrico com os pés mergulhados num balde de água era um "abençoado". Que ele sufocasse seus gritos de dor, somente orando e amando em silêncio, porque está numa situação "especial" em que a tal "misericórdia" já atua em favor (?!) dele e que o momento é dos tais "reajustes espirituais", maneira do "espiritismo" definir a ideia de "combate à subversão" dita pela ditadura.
Mas se a máxima do "sábio" Chico é que a sabedoria superior tolera e perdoa, isso faz com que corruptos do porte de Paulo Maluf e Fernando Collor (que foi apoiado pelo Chico que "tudo sabe") caiam na maior festa.
Se a ditadura militar era nas palavras "sábias" do "mestre" Chico, a construção do "reino de amor" do futuro - isso às custas de cadáveres como de Rubens Paiva, Stuart Angel e sua mãe Zuzu Angel, Vladimir Herzog, Carlos Marighella, Edson Luís de Lima Souto, Manuel Fiel Filho, ou mesmo Juscelino Kubitschek e João Goulart - , seus filhotinhos civis eram os eleitos para sua continuidade.
Se Chico Xavier se autoproclamava o "lápis de Deus", faz muito mais sentido ele ter sido o "açúcar dos militares", já que suas "palavras de amor" são justamente recados para as pessoas aceitarem o sofrimento numa boa e ficarem orando e amando. Isso se os sofredores tiverem energia e alguma lucidez para orarem, porque, nos piores momentos, só cabe o silêncio da agonia e da morte.
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