sexta-feira, 24 de abril de 2015

Busólogos pró-padronização demonstram sua devoção e fé religiosa

TEM GENTE QUE ATRIBUI PODERES DIVINOS A UM LOGOTIPO DE PREFEITURA...

Os defensores da pintura padronizada nos ônibus de todo o Brasil falam que seus opositores são "viúvas de latas de tinta", mas sua religiosidade e sua fé se esquecem que eles mesmos, que religiosizam um simples serviço de transporte coletivo e divinizam o BRT, demonstram ser "devotos de São Carimbo".

Sim, eles divinizam o BRT, o ar-condicionado, os chassis de marcas suecas, como se isso fizesse de cada sistema de ônibus um paraíso sobre rodas. E tudo isso confiando num carimbo, seja de prefeitura ou de órgão estadual, como a Salvação Divina para um simples serviço de levar pessoas daqui e dali.

Para toda religião que aposta num milagre - um BRT que tenha tudo: ar condicionado, chassis sueco, comprimento longo, ainda que circule superlotado e ponha bancos de plástico com almofadas - , cabem também os sacrifícios que todo devoto deve ter.

Entre eles está o de tentar diferir uma empresa de ônibus de outra, na hora de pegar o veículo desejado, tentando se contentar em contorcer a cabeça para ver os letreiros digitais ou tentando reconhecer algum código diferente na sopinha de letrinhas que reúne letras ou números de consórcios e códigos numéricos de cada empresa. Afinal, as empresas agora ostentam um mesmo visual.

E ai de quem questionar esse transtorno, que é o da pintura padronizada. Tem busólogo que se achava o Juiz dos Tempos Finais e zoava impiedoso contra seus opositores, que não acreditam nos milagres do São Carimbo, prestes a ser canonizado pelo papa Jaime Lerner, o Sumo Pontífice da fé sobre rodas e antigo colaborador dos Exércitos da "redenção nacional".

Outro sacrifício é ver linhas de ônibus de zonas diferentes recebendo a receita do Rei Salomão, ceifadas ao meio gerando acéfalas linhas "alimentadoras" que fazem com que o passageiro que viaja sentado no primeiro ônibus possa viajar somente em pé no segundo ônibus e perca mais tempo para se deslocar de sua casa para o trabalho e vice-versa.

Um 676 Méier / Penha já foi cortado ao meio pela peixeira afiada da Secretaria Municipal de Transportes do Rio de Janeiro (SMTR), visando o milagre divino do BRT, mais lotado do que procissão religiosa de cidade do interior. Virou uma linha de Penha para Madureira e outra de Méier para este bairro, "meca" do BRT Transcarioca, cujo único dos operadores, sem que muita gente possa saber (não há identidade visual que diferencie), tem o nome de Redentor.

Já estão querendo fazer o mesmo com a 455 Méier / Copacabana e 484 Olaria / Copacabana, criando linhas "alimentadoras" para o Centro que fariam os passageiros pegarem os ônibus para Copacabana. Sempre naquele esquema: se preparar para viajar sentado no primeiro ônibus, viajar em pé no segundo.

Aí, mais sacrifício. Os hooligans do Maraca que, após um clássico do futebol carioca, causavam confusão no 455 e os encrenqueiros de Maré / Alemão que faziam arrastão no 484 poderão agora fazer o mesmo nas outrora comportadas linhas 119, 121 e 127, no calvário sobre rodas da população. Tudo pelo milagre do BRT!!

E se alguém questionar toda essa Via Crucis que é o sistema de ônibus no Rio de Janeiro, Niterói, Curitiba, São Paulo, Belo Horizonte, Brasília, Recife etc etc etc, ainda é crucificado nas mídias sociais por algum beato de São Carimbo, o santo protetor dessa parcela de busólogos que ainda raciocinam como centuriões montados em bigas nos tempos do Império Bizantino.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.