domingo, 8 de fevereiro de 2015

Chico Xavier é o "AI-5 do bem"


Se há algo que Francisco Cândido Xavier nunca foi era um ativista. Há quem acredite que ele era o mais progressista dos progressistas, que ele era o maior ativista social do Brasil de todos os tempos, e talvez até do mundo e do universo, mas que se enrola quando tenta dar alguma justificativa para tamanhos delírios.

Chico Xavier foi o contrário. Ele era o "AI-5 do bem". Tudo que ele sempre falava era para ficarmos calados na hora do sofrimento, que não reclamássemos, não questionássemos, não protestássemos, não contestássemos, não fizermos outra coisa senão amarmos e ficarmos orando em silêncio, acreditando que o tempo varrerá para longe de nós as trevosas núvens em nossas vidas.

Então tá. a gente espera essa faxina do tempo não se sabe como. As coisas ocorrem errado em nossas vidas, levamos mancadas, infortúnios acontecem, perdemos as melhores oportunidades sem que pudéssemos nos esforçar para conquistá-las, e lá vem o "bondoso" Chico dizendo para a gente orar em silêncio, porque o sofrimento durará pouco.

Chico Xavier acha pouco o tempo que vai do resto de nossa encarnação e parte da encarnação seguinte, um período que corresponde pelo menos a uns 160 anos, e pede para que fiquemos calados até quando um algoz pisa em nossos pés. Sem gemer sequer, sem dar um "ai", sem fazer um "pio".

Vejamos as duas frases bonitinhas que seu Chico havia escrito para adoçar as mentes e amargurar as vidas de seus seguidores que "sofrem amando":

"Se o momento é de crise, não te perturbes, segue... Serve e ora esperando que suceda o melhor. Queixas, gritos e mágoas são golpes em ti mesmo. Silencia e abençoa, a verdade tem voz".

Outra:

"A sabedoria superior tolera, a inferior julga; a superior perdoa, a inferior condena. Tem coisas que o coração só fala para quem sabe escutar!"

E ainda tem o Emmanuel, o "guia" de Chico Xavier, que sempre pedia para não questionarmos, contestarmos, protestarmos, reclamarmos, e queria que só fiquemos que nem panacas "amando e orando em silêncio", que, quando muito, apenas "retifiquemos amando", recado que os algozes receberão com "educado" sarcasmo e um "generoso" desdém.

E aí vem gente nas mídias sociais tratando CX como se fosse o maior ativista do mundo ou o mais transformador indivíduo que viveu na face da Terra. Quanta tolice! Que transformação se espera quando se pede para ficarmos em silêncio na oração, em vez de lutarmos contra os motivos de nosso sofrimento?

Não que a oração ou o silêncio sejam totalmente desnecessários, mas eles são apenas uma eventualidade que depende das circunstâncias, mas não é a regra geral termos que encarar uma dificuldade sem lamentos ou reações.

A oração tem eficácia relativa e apenas recomendável em certas situações, e o trabalho transformador não pode se limitar à servidão de que fala Chico Xavier, como se nós tivéssemos que ser escravos das imposições da vida e esperarmos a tempestade de nossos infortúnios passar... no crepúsculo de nossas encarnações posteriores.

É tempo demais, seu Chico. E sua receita de transformação das pessoas é algo podre e deplorável, porque desfaz mobilizações sociais e paralisa estudos questionadores. Faltou à ditadura militar, talvez, um ministro das Comunicações como Chico Xavier, capaz de persuadir as pessoas do lado "bom" da censura e da repressão militar. Talvez o Brasil ficasse todo parado, orando em silêncio.

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