domingo, 22 de fevereiro de 2015

Rap ou "funk" do além?


"Baixou" lá em Portugal, num "centro espírita" influenciado pelo "espiritismo" brasileiro - uma espécie de gratidão pelo fato do "espiritismo" do nosso país ter sido claramente influenciado pelo Catolicismo medieval português - , uma suposta psicografia em forma de "rap", divulgada pelo sítio espiritólico Artigos Espíritas.

Creditada ao espírito de um jovem de 22 anos chamado "Rito", o "rap" é do mais aberto, porém simplório, panfletarismo religioso. Foi recebida por um "médium" chamado JC no Centro de Cultura Espírita de Caldas da Rainha, no país europeu, em 03 de outubro de 2014, em que o centro se lembrou mais do ato de perdoar do que do aniversário de Allan Kardec, ignorado na sua essência.

O que incomoda é que esse moralismo religioso dos "espíritas" sempre fica preocupado com frivolidades. A letra é vagamente sobre o perdão, mas perdão não se pede, perdão se faz, e a mensagem a ser reproduzida abaixo é de um panfletarismo atroz, feito por pura falta de tempo.

E nem vamos aqui questionar se a mensagem foi realmente psicografada ou não, porque, mesmo em alguns países europeus e mesmo na França, há redutos de "espiritolicismo" por influência brasileira, quando o tema da espiritualidade se perde em pregações moralistas nem sempre agradáveis.

Numa sociedade marcada pelo estresse e pelos atos impulsivos, a mensagem abaixo é até de profundo mau gosto. Nós lutamos para vivermos com um mínimo de calma, driblando injustiças e infortúnios, e quando alguém pisa em nossos calos ainda vem outro pedindo perdão?

Sem uma educação moral e, sobretudo laica, que dê jeito aos nossos instintos, sem a resolução de injustiças sociais e o combate à impunidade e às desigualdades sociais, que perdão teremos vontade de ter se somos bombardeados por valores que estimulam a raiva, o rancor e a vontade de prejudicar alguém?

A letra a seguir é de um primarismo terrível e triste. Sua mensagem tenta cortar o mal pela copa da árvore. Em vez de fulano pedir perdão ou coisa parecida, não seria melhor estudarmos as raízes de tantos malefícios e prejuízos que estão por trás de tantas injustiças? E que perdão vamos dar se vivemos num mundo sem amor?

Tudo vago, tudo genérico, tudo simplório. A mensagem "psicografada" se autoproclama um "rap", mas quem sabe não seria um "funk carioca" enrustido, desses que a turma das tais "rodas de funk" fazem no Rio de Janeiro? Mensagens vagas são especialidade dos chamados "funqueiros de raiz", que chamavam o que eles faziam de "rap".

Tanto faz se é "Rap do Perdão", "Rap das Armas", "Rap da Felicidade" ou coisa parecida. As mensagens soam inócuas, ineficientes e desestimulantes numa sociedade bastante complexa como a nossa.

Elas nem de longe sabem reeducar nossas emoções para enfrentarmos os piores impasses. Pedir perdão é fácil, difícil é pensarmos em condições reais para estimularmos essa prática no cotidiano. A vida nos oferece outras condições para estimular o perdão que não seja o panfletarismo religioso dos "espíritas" como na mensagem a seguir.

Rap do Além...
O homem quer o perdão
mas não consegue dar pão


O homem quer o perdão 

mas abusa quando é patrão


O homem quer o perdão 

mas em casa é um safadão


O homem quer o perdão

mas vive no mal, na ilusão


Se queres perdoar,

muda meu irmão
faz aos outros o que queres
que os outros te façam, então!


Perdoar é bom, perdoar é a solução

para a dor, para a desilusão


Deixa a armadura que carregas no coração

tu não és de ferro, também precisas de perdão


Esse é o caminho, perdoar meu irmão

luta, vai em frente, só esses vencerão...

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